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terça-feira, 30 de agosto de 2011

"ESCREVER É UMA MALDIÇÃO, MAS UMA MALDIÇÃO QUE SALVA"

                                                                        
Há tempos não passava um dia inteiro só comigo. Há tempos não tinha essa casa assim desabitada. Sim, desabitada, pois nem eu estou aqui. Há um quase silêncio. Eu, Bethânia, Chico, Zeca ( o baleiro), Dolores, Belô Veloso e mais um monte de gente que me habita nessa segunda.
Aproveitei para responder alguns emails, postar tarefas no curso que faço a distância, terminar de ler um livro que estava parado com saudade dos meus dedos e de minhas risadas. É, dou risada,converso,choro...me manifesto com as minhas leituras.
Li um pouco do Fabrício Carpinejar, Ubaldo Ribeiro e Clarice Lispéctor. Aproveitei o dia e fiquei assim...camisolenta, numa transa maravilhosa comigo mesma.
Sei que tenho em mim uma capacidade única de ternura, sei que me faz bem estender a mão para quem precisa de amparo, sei que sou avessa as regras e acabo ditando algumas porque minha independência beira a solidão  e as pessoas sozinhas tem alguns vicíos que são terríveis.
Estou observando e muito uma determinada condição que estão me oferecendo. Coisa que já vivi e que não é confortável. Já possuo um outro olhar em relação a isso. Comecei uma análise mais específica e encontrei alguns aspéctos não muito sedutores. Ninguém é perfeito e eu estou longe de tocar alguem assim, Sou meio desconfiada e quando estou assim meu olhar muda... fica com uma cor de desamparo,dureza, desconfiança. Aí não dá jeito...tem cheiro de coisa apodrecendo no ar e eu é que não vou ficar exposta,mesmo que esteja disposta a arriscar...
Que as palavras me salvem e que elas sejam reais.
Lendo Clarice acabei acabei encontrando um trecho de algo que me revela.
Fica de mimo pra você.

 Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo o interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meu grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você, sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para uma inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue pra você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma."
Clarice Lispector - Correspondências

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