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sábado, 29 de dezembro de 2012

LUZ NEGRA


Talvez esta seja minha última postagem do ano que se finda. Talvez não. Talvez o ano nem termine...talvez eu traga as mesmas dúvidas que você. Talvez não. Os próximos dias serão iguais, feitos de dúvidas  e de razões, de esperanças, insônias, inquietações e achismos. Escrevo e escuto Dolores e suas dores, Nelsom Cavaquinho e seus apelos de amores pra serem esquecicidos.Há uma súplica em ambos que me entristece por tamanha beleza..."ninho de amor vazio" dói, mas nos faz ter a certeza de algum instante ocupado e possíveis futuros/presentes guardados. Escrevo, leio, faço outras coisas enquanto isso e dentro disso rio e choro me despedindo dos dias do ano que se vai e vai... e fica em mim a certeza de que muito ainda não mudou, muito ainda é ressaca, muito ainda é fantasia por vir, muito é muita de muita saudade que, se fica, é porque foi presente.
Sinto-me introspectiva olhando a cara dos dias que se foram. Gosto desse momento meu de solidão e compania de mim para mim, mas me dobrei aos instantes que me foram ou me eram sem que nunca tivessem sido de fato, saca? Uma certa ironia do destino que traçamos e que alguém nem viu. Há algo no fim do ano que me remete ao meu dentro que já "tá por fora" para muitos e , ainda assim, me vou para a próxima temporada de competições, desilusões, pois a vida, também , é feita desse tipo de atropelo e /ou afago que trago no meu intervalo de vida.
Preciso enfrentar a piaração dos dias futuros. Preciso ser artista no palco, realista na vida e eu mesma nos dois lugares. Trabalho hercúleo, acredite, pois há em mim mulheres que só eu conheço, não porque me escondo, mas o outro nem me dá tempo de me conhecer devido ao fato de que quer muito , mas sem o trabalho da conquista, do desvendar, do aprimorar , do se afinar.
Hoje , mais que sempre, mais que nunca estou desenhada de música e , acredite, a melhor de todas delas.
Deixo pra você o que me invade, o que me faz calar.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

LEVE COMO UMA MENINA

                                                                                                                                           
Há tempos eu e uns amigos nos reunimos no dia 27 de dezembro pra a nossa virada de ano, pois sabemos não ser possível fazermos isso juntos no dia 31. Hoje foi mais uma vez especial. Grussaí estava linda!! A lua clareava de tal forma a beira mar que dispensava fogueira para o nosso encontro.Estávamos emocionados e sensíveis com tudo que nos era, ali, revelado de maneira simples, porem sublime, entende?
 Nunca fui um ser que acredita na capacidade de lidar com a vida de maneira solitária- dá pena ver gente assim-, gente que centraliza, defende como seu o que é do coletivo. Nesse nosso encontro- de almas- fazemos uma retrospectiva do ano que se finda, agradecemos pelas coisas conquistadas e repetimos pedidos que não nos foram aceitos e invocamos, coletivamente, amor, saúde, prosperidade e trabalho- para que possamos realizar sonhos de consumo, pois não há outra forma de conseguirmos.- Depois dançamos e rezamos as orações que nos foram ensinadas desde pequenos e que, com o tempo, ganham a força que precisamos. Aproveitamos e comemos frutas para manter o corpo em sintonia coma alma e por fim nos abraçamos e desejamos que a luz esteja com cada um de nós diariamente.
Acabei de chegar em casa com o espírito leve e fresco como de uma menina. Cheguei em casa pensando em tudo que conversamos, nos amigos que não estão mais comigo e que se foram pra terra do encantado e em tudo que vivi até aqui. Enquanto escrevo um filme passa em capítulos na tela de minha memória e eu descubro o quanto a vida está sendo generosa comigo que quase deixei de crer que fosse possível encontrar alguém que enetendesse meu silêncio e minha intenção, que não parece ter a estranha mania que tem as pessoas de querer nos modificar. Que também  busca o outro, o diferente e não o próprio  reflexo. Eu confessso que busco o leve, o espontâneo, o carinhoso, o viajante, o garoto, o que não veio com uma fórmula, que respeita meu relógio emocional e jura sentir saudades de mim e dorme junto comigo, dividindo travesseiro, e que chegou rápido e está...
Agradeci muito por tudo, mas sobretudo agradeci pelo meu encontro comigo, pela minha relação com meu filho e família, pela beleza que são Pedro e Mariana e pela fidelidade do meu irmão. Agradeci pela sua aparição em minha vida, Preto, pela nossa troca e calma, pela nossa espera e vontade de tentar. Agradeci aos amigos- raros- que tenho e pedi perdão por me deixar enganar vez ou outra, mas aprendo com isso. Agradeci pela vida que é exatamente como construímos e ao meu incansável coração que teve a chance de se encantar mais uma vez.
Feliz 2013!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

SÓ PRA VOCÊ

                                                      
Sou aquela que permitiu
Que sua vida esbarrasse na minha
Que cultiva teus versos, sambas e fantasias
E se faz imortal para o valente moço
Que me liberta a alma
Sou pérola da tua concha
Corte da tua espada
Que na bainha ainda se guarda
Os segredos, em mim guardados,
Estão perto de ser revelados
E se fazem guerra...
É somente pra te encontrar em paz
Sou alguém que quer ser enlouquecida
Que reza por massagem nos pés,
Um banho de banheira,
Uma festa de uma noite inteira,
Que quer ver respeitado o choro
Que tem calma e riso no gozo
Que sempre quer mais
- não sou dada à migalhas-
Se você grita comigo
Automaticamente revido
-às vezes em silêncio-
Desaforo é coisa pra não se levar
Detesto constância...preciso de saudades
Para alimentar minha escrita
Meu cabelos foram feitos para serem despenteados
E minhas costas para serem, publicamente, alisadas
Logo, abuse desse sortilégio
Minha vida é só minha
Mas posso alinhavá-la na tua
Acredite nas minhas hipóteses
Respeite meus estágios de solidão
E só retorne se eu pedir
Gosto de mãos... gosto demais
Ah! gosto mais ainda dos caminhos
Que elas descobrem em mim
De pescoço...gosto, gosto muito
De boca e saliva gosto mais
Gosto, irremediavelmente, do conjunto que me toca
De pernas, bunda, dedos, olhos, olhares, promessas e olhar..
Se gostar de leitura, faço até jura
Se acreditar em espíritos, sou capaz de levitar
Se não entender nada disso...
Basta brincar de me encantar
Que eu te encanto e juro...não te deixo recuar.

                                                                                   Das Preta.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

QUE TAL UM SALTO!

                                                           
Tenho a estranha mania de ficar procurando causos por onde passo. Às vezes estou dentro de um ônibus e me quieto para escutar as conversas que giram ao meu redor. Pois ontem me aconteceu algo diferente e talvez surpreendente em um mundo que parece dar pouca atenção ao olhar. Andava pela rua e atrás de mim caminhavam dois jovens rapazinhos. Em determinado momento um pergunta ao outro:-"E aí, mano, como estão as coisas com ela?-" "- Cara, você não vai acreditar....quebrou o gelo. Acabou aquele ar de superioridade. Ela me mandou uma mensagem de madrugada dizendo que estava feliz pelos dois meses de namoro e que estava muito encantada com tudo! nem consegui dormir. Agora vou esperar sair o dinheiro do show do SESC e comprarei um presente pra ela.-"
Bastou. Não precisava ouvir mais nada para saber que o rapaz fora tocado por uma paixão, por uma espécie de festa que só acontece a quem não foge dos precipícios e não tem medo de saltar. Minha alma ficou alvoroçada, pois ouvir o relato, sem medo, de um menino com outro, na rua, é simplismente saboroso, é poder acreditar, novamente, que há em toda a gente a vontade de estar junto, de agradar, de ser "fofo". Tive uma intervenção no meu olhar que já estava acostumado a não ver nada de tão poético e natural. Há poesia nisso que assisti. Há uma coisa meio heróica também, pois nesses dias em que se manifestar amorosamente é piegas, ouvi um menino dizendo, no meio da rua um, quase, euteamo- junto mesmo.
Depois voltei um tantinho ao tempo e me lembrei da passagem que ele diz:"sair o dinheiro do show..." Artista! Tinha que ser! A emoção é outra! Gente desse time joga de verdade, não se esconde covardemente, não tortura, não denigre. Gente assim respeita, e muito, a decisão alheia, não invade, deixa que percebam suas crenças, descrenças, indecisões e tudo que as empurra ou paralisa. Gente que é artista é verborragica, é confessional, é mais autêntica. Ele é!
Depois disso fui brindar comigo. Entrei em um bar suspeito e fiquei a chorar de amor, vasculhar frestas, entorpecer-me de àgua. Nos últimos dias tenho me conhecido melhor, e acabei descobrindo que, à revelia de alguns, gosto de quem sou, e por isso volto pra mim com algo novidadeiro, com sentidos mais alertas, e com uma leve sensação de que já fui tarde, mas só volto porque fui.
Onde eu quero chegar com isso? No menino que despertou meus ouvidos e meu olhar, que me acumulou de poesia e me fez ter uma vontade enorme de, sem medo, ter o mesmo precipício que ele, e saltar junto. Que tal?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

NÃO É.


Raramente sinto -me sozinha. Tenho a estranha mania de me povoar de sonhos e de eternizar minhas ideias, mesmo quando dependo do outro para que as possa cumprir.
Sempre afirmo que tenho muita preguiça de sofrer e que acho tedioso amar sozinho,acho um absurdo ser ignorado, ser destratado, mas há uma gente com disposição para te fazer isso. Bem, comigo não funciona, pois arrumo minha bagagem de mão e parto para uma nova história e vivo de maneira tão intensa que o que era intenso fica raso -como deveria ser e a gente não viu- e o que é novidadeiro ganha um urdimento tão maravilhoso que torna-se impossível se sentir desamparado.
Minha solidão é sempre "mini", pouco elástica e cabe perfeitamente em mim. Não combina comigo me entrevar e faço, sempre, piadas de minha vida, tenho um humor que me conforta e a minha boemia auxilia nisso com graça e satisfação.
Estava meio sem ar por aqui e, decidi, fazer um passeio, acender um cigarro e me deixar levar. Decidi não me permitir afetação do isolamento e nem sair por aí como se estivesse em estado de balada.
Me dei permissão e aproveitei o fim de samana para uma análise profunda de meus desejos. Descobri que, às vezes, a angústia nos habita por sermos parceiros dela e acabamos cultivando como doença aquilo que pode ser tratado como reflexão. Depois de muito pensar e pensar resolvi colocar sobre minha pele um vestidinho curto e leve e buscar a Lapa e suas nuances, e seus performáticos botecos e sua gente afinada e dona de" um sei lá o quê" que me encanta.
Eu já havia gostado e muito de tudo. estava tão acostumada comigo que me reencontrar naquele espaço foi presente. Dancei, cantei, me encantei e me deixei enamorar. Nunca foi tão rápido, tão casual, tão sem paranóia e tão doce...
Estou de volta para mim. Sem mágoas, sem dores, sem culpas, mas sem um certo entendimento  que, sei, o tempo me revelará. Guardo em mim alguns questionamentos que talvez nunca tenha respostas, mas encontrei uma...Simplesmente não foi. Nunca foi. Era apenas o que gostaria que tivesse sido, mas não é.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Oh! Poeta
Como és inquieta
Vive colocando
Seus versos em linhas
Tensas e adimiráveis
Aquieta-te a alma
Descansa teus pensamentos
Acalenta teu sono
Ele clama por um minuto
De silêncio
Oque fazes com teu corpo?
Não sabes que ele é o templo de tua alma?
Relaxe, mergulhe no oceano
Namore com as nuvens
As flores te esperam
As rosas querem te desenhar
Serias um belo jardim
Pensa! Quantos espirítos contemplariam-te
Hoje é apenas uma passagem
As horas se vão
O relógio não para...Eu sei
Vamos tecendo nossos sonhos aqui
Nossos desejos clamam liberdade
Querem criar asas e voar, voar e voar!
Não perdeste o contato com nada
Tu respiras
Sente
Cheira
Tem sede
Fome
Onde está acomida, agora?
Perdestes os sentidos
Tua ânsia freia o imaginário
Vem!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Os Três Mal- Amados



Não sei se agradeço, não sei se peço perdão, mas a noite de ontem foi de reencontros. Fiz um estágio na nossa terça sem lei. Fui, mais uma vez, fora da lei. Me beijei inteira, fui abraçada e alvoroçada pelos que não via há alguns meses e descobri que estava com muita, muita,muita saudade de mim. Falei , falei, falei muito e descobri que minha fala estava contida, reprimida...por mim, pela minha doidice de querer parecer sã- rsrsrrs- e lá veio meu velho Demo pra me fazer , mais uma vez, perceber o óbvio- coisa pra outra postagem-.
As conversas- muitas- até quase agora- como sou irresponsável quando feliz- me fizeram repensar tantas das muitas coisas. Fiquei querendo saber onde eu me enfiara e não descobri ainda, pois acho que estava dando uma morridinha de mim só pra me acordar assim com uma certeza, quase absoluta, de que posso ser eu mesma e me deixar fluir...
Nas conversas que permearam a noite, madrugada e alvorada muitas poesias saltaram de nossas bocas, muitas músicas foram relembradas e dançadas- nossa!! como estava precisando dançar- muitas loucuras foram abençoadas e dentre elas apareceu uma poesia do João Cabral de Melo Neto que me fez perceber o quanto me desviei de mim e a causa disso que , hoje, não é mais. Confuso não? Mas eu entendo e isso basta.

Os Três Mal-Amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

Valeu Nanda ! Valeu pelos poemas, pelas músicas, pelo riso fácil, pelo encontro com todos...Valeu!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

NÃO FOI NADA



Vou ensaiando versos para minha próxima invernada.
Perdi a hora e a palavra
Perdi o contato com minha escrita.
Estou calada
Boca
Peito
Sexo
Tudo se cala e me convence
- não foi nada-
Estou sendo boicotada por mim
Não gosto
Ser intesa tem seus rasos
Suas tramas e insatisfações
Vejo meus planos futuros
-quando não há futuro-
Se estilhaçarem,
Batendo em meus comodos internos
Fazendo uma mudança
Sem me dar satisfação
Eu mesma financio essa, quase, tortura
Eu mesma pingo em minha testa
Gotas de descaso
Sei que não há acaso
Mas eu não vou me comover
Quem saqueou minha alma
Abandonou o caminho
Robou-me o senso
Atropelou minha serenidade
Certamente, pedirá minha calma
Não vou revelar
Nada
Não vou intitular nada
Vou tecer novas e antigas jornadas
Em mim
Para mim
Que não me abandono
Pra mim que fez passeio
Com um cão sem dono
Cão que me latia ilusão
Cão...
Os estragos estão na cara
Os desperdícios estão na alma
Vou me deixando congelar
O Diabo, que mora em mim,
Envelheceu um tanto mais
E ele só é Diabo porque velho
E o cão, certamente, me dirá
- não foi nada-
Ainda nem sei o que perdi
Ainda não sei se perdi
Talvez, no fim
Eu tenha ganhado
Perdi a palavra
O som de meu pensamento
o ruido sensual de um click
Depois ganhei a nova estrada
Onde tenho que me doar
Na minha suite
Na minha, estou fechada
Calada,
Acordada.
Não há culpados, nem vitimados
Apenas o sentimento que me habitou
Vagou sozinho por um tempo
E de remexer meus conceitos
Me fez enchergar seus defeitos
E hoje, aqui, onde ele - o quase nada-
Já habitou
Restam frascos e comprimidos
Ficam em meu cardápio
As refeições que necessito
Suor,
Lágrima,
Gozo e
Sangue
O meu mundo pode até ruir
Mas que seja como água
Pra eu me reconstruir.
Seguirei cumprindo
Minha sina
E no fim
- não foi nada-

                                                       Das Preta.

PS: Para minha querida e sincera amiga cheia de "brutalidades", mas que sabe, como ninguém, me escutar e me fazer repensar e dizer minhas verdades mesmo quando não as quero ouvir.
Pela conversa de ontem, pelo o encontro de sempre.
Valeu tudo Nanda. Vale eternamente.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

COMO ANJO



                                                                              

Preciso ficar acordado

Pois assim eu velo o teu desejo

Contemplo a sua loucura

E desperto o seu equilibrio

Apenas me retraio aos teus encantos

Por entender não pertecerem a mim

Encantos sedutores e vorazes

Não quero ser um barco à deriva

 Em seu oceano

Ainda sou o comandante dessa embarcação

Sou seu anjo protetor

Preciso ficar acordado e atento

Sua alma sempre se desprende para voos matinais

Por que essa pressa??

Onde quer chegar? Pra que se enganar?

Sou ainda menino, travesso, mas menino

Fico espantado com seu volume de ideias

Ainda estou aprendendo a dialogar com sua alma

Espere um pouco

Deixa eu respirar

Preciso voltar a manter o leme

Pra você não se afogar

Avisto os corais

Ou será um grande iceberg

O coração de quem não soube te amar?

Morena com o olhar de sereia

Tu és mais envolvente que teu próprio canto

Preciso ficar atento

Você às vezes me parece triste

Escreve triste

Exala uma certa busca

Daquilo que não existe

Mas isso é só pra chamar minha atenção

Já te disse preciso retomar o leme

Pra te presentear

Pra que não percas mais

O comando de teu barco

Para que não abandones os marujos dessa viagem

São eles que guiam os sonhos...

Preciso ficar acordado

Não posso dormir

Entende...

Não posso ser teu empréstimo

Pois o saldo, pra mim, está negativado

O mundo está prestes a acabar

Como pagaria e em seguda devolveria-me?

Mas façamos um trato

Isso eu faço

Juro!!

Permito-me ancorar o barco

Atrasar o relógio

E ao invés de já chegar para dormir

Vamos sentar nos jardins dos sonhos

Contemplando as cores

Avistaremos o desejo

Pediremos permissão aos Deuses

E assim nos transformaremos

Com a vestimenta azul

Seremos lendas

E sem medo colocarei não só as mãos

Mas todo o meu corpo dentro do seu

Com perfeição

Te levarei pra conhecer mundos invisíveis

Nem medo, Nem assombro

Nem desespero, Nem indiferença

E quanto aos demônios

Fica tranquila...

Serei seu anjo

E anjos precisam ficar acordados e atentos

Por isso não posso dormir...

E só por não poder ser esse "cadin"

Não aceito teu convite

Mas com isso ...sonho.

                                                             Serpa

PS: Há algum tempo que eu e meu amigo, Serpa, criamos diálogos para nossa escrita. Essa foi a resposta que ele fez para o meu poema" Vem dormir comigo hoje"... Espero que meu mundo não se acabe, por enquanto, e que dormir continue sendo um prazeroso brinquedo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ONDE ESTÁ O POEMA?

                                                                           

Durante todo dia
Busquei o poema dentro
De mim
Como menino
Ele fugia
Pela janela voou
Pelos meus olhos brotou
Numa brincadeira
Me espia
Me fia
Me atormenta com sua
Indagação
Com sua demonstração
Com suas inúmeras tentativas de sins
Com suas incalculáveis sabotagens de nãos
Quais vales perdidos na tarde ele emoldurou
Em outro papel?
Em quantos anoiteceres
Busco em ti
O cheiro do que me encanta
E não me entregas uma inspiração?
Há uma impaciente
Espera pela sua chegada
Venha logo
Se instale e liberte de mim
Esses segredos de suas imagens
Venha e libere de minha alma
Essas palavras todas
Que me impediram de calar o grito
E transformar o silêncio
Em pura expressão
Entrega-me tua rima
Teu verso branco
Tuas reticências e
Deixa que o meu sujeito oculto
Faça uma revolução sintática
Nessa coerência literária.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

EMPATE





Acostumar-se ao erro
Sabedoria dos amantes
Não precisaria de                                         
mais palavras
Para nos mostrarmos
farsantes
A farsa??
Um único ato
Cheio de inteligente
Graça
Está no riso
Sem dor
Então...
Não há farsa
onde tudo
um dia passa
Há apenas
A paisagem da dor.
E essa...
Essa meu amor
a gente
Colore
Essa a gente
Pinta
De uma outra cor
E se pra você
Não é música
Se pra você é só
Poesia...
Memorize
Transforme em
Afinada harmonia
Pra esse tipo de emblema
Não há um sistema
É raro
O tema
Amor...
Amor não é palavra
É matemática
Um mais um
E pronto
Nenhum...
É só acostumar-se
Ao erro
É só submete-lo
Ao acerto
É jogar.
Viver é um jogo
Aposte no outro
E seja você
Aposte junto com o outro
E perca você
Aposte e perca o outro
Ganhando você
Jogue de novo
Num outro
Pague pra ver
Redescubra no outro
O que não há
Em você
Descubra o outro
E perderá aquele
Que há em você
Perca o outro e
Arrisque um empate
Com você
Arrisque,
Arrisque
Um outro de novo
Embaralhe as cartas
Coloque-as na mesa
Escolha um naipe
Faça uma nova aposta
-Se gostas-
Mas assuma se perder.
Na máquina –caça níquel- amor
O único que perde
É quem tinha tudo
Pra vencer...

                                   DAS PRETA.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

EU COMIGO...VIAJANTE


 A noite passada foi mais uma noite insone. Foi uma noite de questionamentos internos, lágrimas de tristeza e raiva e uma introspecção que cabe a qualquer ser que, indignado, vai recapitulando o que chamam de erro.
A noite foi de vários riscos e rabiscos, de músicas ouvidas baixinho e de som de respiração de filho para me fazer entender mais de minha função mãe, mas acima de tudo a noite foi de lembranças e catarse.
Quando eu era criança a vida corria solta e leve. Eu não imaginava que crescer fosse tão cruel. Não imaginava que uma gente semelhante a mim fosse teimando em meu caminho a cavar buracos pra que eu mesma caisse.
Sempre fui um tipo de gente que, irreverente a tudo e a todos, assumiu com a vida o compromisso de ser feliz. Com o tempo descobri que a felicidade, tão ensinada pelos justos que me precederam, passou a ser artigo comprado em supermercados, lojas de conveniência ou uma permuta feita, na bacatela, para agradar aos alheios, e com isso me senti só, mas de uma forma ou de outra fui construindo meu mundo independente de olhares soturnos. Sou temerosa. Tenho medo de olho gordo, tenho medo de carrascos em pele de amigo, tenho medo de gente e gosto delas- que loucura, não?-. Tenho medo de quem me abraça e quando desfaz o abraço me espia, buscando em mim defeitos que nem eu conhecia.
Com o tempo fui me maturando e me tornando quase que uma estudiosa do outro. Fui me tornando mais só e descobrindo as vantagens que há nisso.
Olho para trás e vejo que me apaixonei muitas vezes, me estrepei algumas, fui futil em outras, enviuvei sem casar, matei um amor que me matou, falei e falei muito, mas nunca fui leviana. Nunca fiquei na superfície por medo, se o fiz foi por precaução, foi pra ganhar tempo.
A solidão é algo que não me apavora, mas ser jogada nela por despeito, e pior, por uma gente que me desconhece, que não é, nem está qualificada a me julgar... é de amargar essa dor que agora sinto.
Desde de pequena ouço -" cuidado! nem todo mundo que te sorri gosta de você". Não devo ter feito uma avaliação muito boa nesse contexto.
Não gosto de um monte de coisas, não gosto, por exemplo, de ser assunto, ou tese a ser discutida. Não sou um caso de estudo e se há alguém que esteja interessado em me conhecer que o faça sozinho e se surpreenda ou se arrependa, mas o faça antes de me atropelar sem que eu perceba. Ninguém sabe ,mas conservo uma irritante ingenuidade, ou melhor, conservava até agora pouco ( são 02:40 da matina). Ah! não gosto que futriquem minha vida, que revirem meus baús sem saber de minha essência. Não gosto que apontem meus defeitos como se eles não os tivessem. Não gosto que interfiram em minhas escolhas ou que me tratem como se minha vida fosse um coletivo onde todos podem dar sinal.
Sou um ser que dá a cara a tapa- é preciso, no mínimo, disposição para isso-, que honra seu ofício. Pago - e caro- pelo meu conhecimento. Tenho talento para o palco , mas não transformo minha vida num espetáculo. Cumpro meu papel de poeta, atriz, mãe, filha, amante- quando me deixam-, professor e faço com a minha vida aquilo que me convém. Vim ao mundo para viver, com a garantia de que cabe a mim essa função, logo não preciso que ninguém o faça por mim.
Gosto de polemizar, mas com gente inteligente. Nunca com medíocres...nunca.
Vim de onde não se imagina. Com uma história que foi conversada em sessões, mas dei alta ao analista antes do tempo, acho. Algumas histórias fariam Nelson Rodrigues querer retornar ao mundo dos quase vivos -rsrrsr-, mas nunca usei disso para justificar minha insegurança ou loucura.
Não sou temente a Deus, o respeito.
De todas as coisas do mundo a que menos gosto é de sofrer. Não tenho talento para isso. Sou preguiçosa para o sofrimento, mas me encolho na tristeza-como faço agora-. Fico triste de doer quando me atingem alma adentro- porque é a alma e não o corpo que se contorce com a injúria.
Ninguém sabe, de verdade, quais verdades traz o outro se não o conhece. Só quem o conhece (será?) sabe. Só quem faz a troca conhece os defeitos e esse, acredite, foi eleito como amigo, como alguém pra dar amparo, abrigo, como alguém que tem asas e nos leva pelo bico para voar.
Nunca tive problemas em pedir desculpas, mas que culpa tenho de não ter medo de dizer o que penso? Que culpa tenho de querer instigar o outro a pisar por caminhos que ele mesmo escolheu, mas se esquiva?
Um pouco de quando me entrego é questionável, por causa disso, condenável, e daí? Sou inteira em tudo que faço. Aprendi desde criança que assim valeria a pena dançar esse baile chamado vida, mas não me disseram que o maestro seria uma gente invejosa e disforme. Em meu baile essa gente não entra, não serve, não limpa, não interfere.
Denomino amor aquilo que faço com e por amor, mas essa palavra não impõe um seguimento único atrelado a conceitos duvidosos.Essa palavra é mais.
Amor é o que damos sem exigência de troca. Amor é quando importa, é quando nos tornamos surdos às intrigas, é quando rimos e/ou choramos diante do outro sem precisar nos defender. Amor é quando todo o resto é perfumaria.
De resto, do resto? não sei, não sei onde exatamente me encaixo, onde me defino, onde me traço. Mas sei, exatamente, como tocar em frente e o quanto é fugás ter que olhar pra trás.

PS: Um passeio em seu bico pra eu poder descansar minha cabeça que ainda fervilha, moço.
Posto a última música que escutei por volta das 04:00h

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

IMPRESSÕES



                                                                        
                                                        
Quando meu homem me pega por trás
E cheio de crimes revira minha cabeça
Vejo em seus olhos a inquietação
De suas histórias
Histórias que devem ter cercas
Devem ter se enfiado em buracos
Transformado o óbvio em superstições
Meu homem sabe do desejo
Sabe o que é paixão irrefreável e assim
Me pega de lado
E meus olhos é que  reviram afobados
Sabe que por ser de peixes
Me mergulha inteira e me molha
Sou curiosa de suas intimidades
E , dessa forma, vou usando de artimanhas
Solto fogos de artifícios e não indago coisa sequer
Vou nos criando novos na nudez de nossos atos
Quando ele me atravessa o corpo
Convivo com o perigo de enlouquecer
Mas me torno uma visitante de mim mesma
Construo pontes, edifícios,
 Cidades inteiras dentro de mim
Para que ele possa, de vez em quando, me habitar
Deixo escadas de serviço sempre à vista
-Caso ele caia sem aviso-
Para que escorregue ainda em mim
E entenda que não há risco em se deixar flutuar
Trago nos olhos e na púbis uma umidade latina
Que se arvora quando ele me encara
E minha boca revira sua língua e eu me deixo
Encharcar de forma indecifrável
A alma do meu homem, embora ele não saiba,
É revestida de um feminino velado
Tem choro, tem jura, tem fotos,
tem medo, tem carência, tem impulsos.
Dizem que ele “não presta” e que me falta juízo
Pra aceitar esse improviso ou essa situação.
 Somos donos de tantas viagens, tanta viradas,
Tantas falas, tantos gozos.
Em nossas horas já contamos sinuca, besteira,
Orgulho, churrasco, família, filhos, esquinas,
Fé, religião, força de Ogum e maturação.
Já nos doamos tanto, já nos permitimos tanto
Que do meu homem vou herdando o pouco sono
A safadeza, a esfregação e o silêncio.
Do meu homem vou herdando a depuração,
A lisura, o desconhecido e me faço travessia
Pra ele se perder no meu abraço,
Para não me negar amasso,
Pra ele me tirar da solidão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

PEQUENA MORTE

Morrer todos os dias em teus braços
Faz-me acreditar em cada sopro
Em cada desejo realizado
Em cada explicação para a vida                  
Que se atreve, clandestinamente,
Em arder as nervuras
Em arrancar minha blusa
Em lamber minha boca
Em me salvar da loucura do medo
Que tinha de morrer
E essa loucura
E essa liberdade
E essa "pequena morte"
Eu quero todas.

* Pequena morte= orgasmo ( assim chamam os franceses. Não é lindo? Então me mata, tá?) 

"Pequena morte, chamam na França a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce."
Preta.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

AINDA SOU UM MISTÉRIO PARA MIM

                                                                   
                                                                           
Aprendi a lidar com a morte depois de anos de minha existência. Acho que depois que comecei a entender que alma e corpo são de durações diferentes e que a primeira é eterna. Dizem que acreditar na reencarnação é um tipo de ideologia que consola, mas não vejo assim. Preciso muito de amparo quando alguém, que é meu, faz a passagem , o ritual da vida, a libertação. Preciso de afeto e amparo porque me morro também em cada um que se vai. Sinto como se parte de minha história, que foi vivida e não apenas contada , fosse aos poucos emudecendo e tornando vento que depois vira esquecimento.
A lista de meus mortos está crescendo em demasia nos últimos tempos. Antes , quando pequena , lutava para que alguém , que me dizia "não" e me educava com pulso de família, morresse... e eles nem morriam. Hoje os quero sentados em calçadas, admirando o novo instante e eles estão velhos e eu não os vivi como deveria, não os perdoei como me ensinaram, não os amei publicamente tentando imitá-los em sua arrogância banal.
Lá se foi, hoje, pra terra do nunca, mais um de minha estirpe, mais um de meu laço....mais um.
Perdi amigos que me fazem muita falta. Lembro deles com alegria , todos os dias. De Laís e Modesa resta uma saudade da risada gorda e das conversas infinitas. De Edu fica a saudade do amor que aprendemos a amar juntos. De tio Pedro, Marizo, Magaly e Lúcia todas as incapacidades de sermos explícitos, a religiosidade e as mentiras sadias -tipo histórias fantasiosas- que contavam. Sinto saudades tantas e de tantos que escrever me turva "as vistas", como dizia minha vó, de quem sinto, também, muitas saudades. De tia Iracy guardo o docíssimo bem querer e o olhar de quem está no mundo pronta pra tudo. De tia Seila a infantilidade e o desprendimento. De Neném a fala atropelada e a curiosidade...meu bau tá cheio e deverá guardar muitas recordações, ainda. Contra minha vontade, acredite.
Queria viver 99 anos só pra morrer antes de todos que amo, e que viverão até 100.
Queria saber quem escolhe a hora de voltar. Queria não ter aos quase 50 as mesmas dúvidas e os mesmos questionamentos a respeito da vida e da vida de  depois da vida. Fácil deve ser para os ateus, ou não? Deve existir neles uma angústia do nada, sei lá.
Preciso confiar que viver é pra ser divertido, é pra se adquirir conhecimento, é pra deixar saudades...é pra rir, chorar, amar , brincar e ter medo, mas acima de tudo, viver. Viver é pra viver e pronto.
Preciso aprender a ter mais placidez diante do inevitável, e quero muito, muito e muito jamais deixar de ser o que sou, jamais me esquivar dos meus sentimentos e não me desesperar por ver mais uma bola do fim de festa ser estourada em minha cara. Não sei - ao certo- pra onde vão os que amo, mas Deus com certeza ri, pois é o único que, certamente, sabe. - Como disse o poeta-.
Então...até um dia!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

NÃO FOSSE ISSO E ERA TANTO,NÃO FOSSE TANTO E ERA QUASE

Há certos dias em que o sol parece ter despertado para nos tornar lentos, aposto que a vida transcorre para alguns como se fosse uma brisa. De ontem para hoje várias coisas fervilham em meu interior, os fatos parecem não estabelecer contato algum entre eles e eu fico meio que sem saber como, ou o que acontece realmente. As palavras, todas, surgem em meu contexto de forma desconexa, como essas que por ora escrevo. Tudo em mim está meio desordenado...não sei se nunca soube ou se desaprendi a me entregar, não sei se é uma espécie de exercício que só acontece na despretensão, não sei se há momentos em que o outro transpira , desorientado, odores de "não se meta comigo e se o fizer...tome cuidado". Não sei um monte de coisas ou não me eduquei o suficiente para sabê-las, mas alguma coisa me incomoda e eu não consigo falar disso. Sou desconfiada- sempre escrevo essa frase- acho que por trás da maioria das manifestações existe uma necessidade de autopromoção e uma certa periculosidade em torno de quem foi atingido e daquele que quer revidar. Estamos vivendo um instante em que "achismos" opniões ou sei lá o que não podem ser publicadas,um instante em que um infeliz comentário leva para guilhotina um ser que, sem duvida, é tão desprezível que, certamente, nada sabe sobre inquisição, sequelas de séculos de tortura e/ou maldade extrema. Tudo é rotulado, tudo é medido, tudo é  necessáriamente explicitado. Até o "Eu te amo" pode ser violado e trasformado em seu cárcere.Cuidado! Temos que ter cuidado ao escrever, temos que ter cuidado ao criticar, temos que aprender a defender nosso pensamento e não transformá-lo em algo que possa se voltar contra nós.
Assisto todos os dias pessoas bossais, racistas, preconceituosas manifestarem sua indignação a respeito do racismo, do preconceito e de bossalidades, assisto também, essas mesmas pessoas, elegantemente, cometerem o mesmo pecado. Nada tenho contra aquele que levanta a bandeira do "me sinto profundamente ofendido", tudo tenho contra a quem não sabe o que diz, mas tenho mais pena que indignação. Tenho pena porque gente preconceituosa desconhece a sinceridade, não trabalha os afetos, não devora um livro, não ama livremente. Gente preconceituosa luta por cotas e não por conhecimento, luta por igualdade , mas não por entendimento, luta pelo que lhe foi negado, quando desde há muito, colocaram em salas de aulas pessoas para dar aos seus filhos o que eles já não mais recebem em casa que é berço , lutam por direitos e não deveres, por bolsas e não por um salário respeitoso  aos vários cidadãos das mais variadas profissões e, enfim não lutam por  mais referências para a construção de um mundo mais justo e melhor.
 Gente preconceituosa também é aquela que de tudo reclama, que proclama uma dor não sentida.
Sou negra, tenho mais de 40 anos, conheci gente que levou porrada por tudo, inclusive por ser gente, mas infelizmente, conheci também quem porrava, quem batia primeiro para perguntar depois, uma humanidade desumana que ainda rotula os"pretinhos" e abre a bocarra pra dizer "deveria estar no tronco". O problema é que, em alguns casos, muitos de nós não saimos de lá, muitos , ainda, somos açoitados pelo desgoverno que abandona periferia afora os negros que resistem numa miserável condição. Me desculpem os militantes, os ativistas , os ditos pacifistas, mas preconceituosa também é uma corja que, sentada em suas salas, no conforto de um gabinete, continuam , dia após dia assinando leis que torturam os mesmos negros que, quando se faz conveniente, defendem. Bonito, bonito de verdade será poder ver a minha gente não ser defendida, apenas, pela cor de sua pele, mas pelo tanto que fez e faz servindo ao mesmo Brasil. Bonito, bonito mesmo é dar a eles condições de defesa, não pra se ter mérito ,mas por sabê-los imbuídos no processo político, nunca mais como vítimas ,mas como uma classe que teve a oportunidade de ter direitos respeitados, de manifestar o que sente, que não tem seus votos comprados, ou trocados pelo que comer, que aprendeu o que lhes é justo, mas lhe foi violado. Bonito, bonito mesmo é num país miscigenado, nunca mais ser rotulado de mulato no sentido parco da palavra e deixar claro que todos somos, na alma, embora muitos discordem...refinados, lindos e essenciamente necessários, como deveria ser qualquer ser que são- quanto  condição de espécie humana- iguais.

                                                           

terça-feira, 23 de outubro de 2012

RESPOSTA AO TEMPO

Não imaginava, não no séc. XXI que ainda existisse aqueles cadernos que guardam questionários tão usados nos anos 70. Pois bem, eis que me deparei com um desses nessa semana. O encontro me jogou no centro do meu universo esquecido. Tudo ganhou um "que" de nostalgia- que em mim não é vago- que até de algumas respostas para determinadas perguntas me lembrei e, confesso, meus olhos marejaram por não ter em mim, por mais tempo, aquela menina que às vezes espia em meu olhar.
Entre um comentário e outro durante a aula tentei usar desse artíficio para trabalhar o conteúdo que seria aplicado e, de repente, não mais que de repente, uma aluna falou:"professora!! responde pra gente" e isso torno-se um coro de "responde, responde, responde...". Ri, ri deles e de mim, ri por ver na minha frente, uma gente que daqui  a alguns anos estará sentada sem lembrar mais do seu caderninho "questionário", ri porque lembrei de meus amigos de escola, ri por ter imaginado, como eles, que tudo é eterno...
Bem, não colocarei as perguntas aqui ,mas tentarei reproduzir algumas coisas que, radicalmente mudaram trinta e poucas anos depois.
Meu nome é Adriana, também me chamam de Preta. A idade é aquela que o lugar me exige ter. Agora tenho 14. Libriana, ecumênica com forte inclinação para o espiritismo, gosto demais, demais de gente que gosta e respeita gente. Não diria apaixonada, mas encantada. Medo de não acreditar em mais nada ou ninguém, de perder a pureza, de andar sem amigos, de não ter quem beijar.
Adoro carangueijo, camarão,ovo mexido com feijão e banana maçã (rsrsrs). Meu marido, Chico Buarque (rsrrs) Bibi Ferreira e Nanini. Rio de Janeiro/Lapa. Verão em Ipanema. Meu filho Caiã.Atafona/Pontal. Minha mãe e meu irmão. O Rock in Rio 85 - esse existiu de verdade- e todas as vezes que estive no Sambódromo. Nossa!! em Arraial do Cabo, eu tinha 19, 20 anos...rsrsrs. Teatro, música e livros. Vinho, um bom vinho tinto português. Adoro, adoro, mas tive poucos namorados. Tenho muita, muita preguiça de sofrer e isso me coloca em estado de vigia, mas de quando em quando me deixo ser levada pelas mãos de quem me deseja. Não mudaria nada, foram minhas escolhas que me tornaram o que sou e, gosto do que vejo e do que acredito. Gente corrupta, mas não apenas no sentido de política, gente que corrompe sentimentos, que humilha, que aniquila quem está por perto,gente que se julga superior e arrota uma fétida mania de expurgar suas palavras e ranços  gente leviana com o coração alheio, que menospreza, que guarda rancor, que não chora. Detesto gente que tem dificuldade pra se assumir. Romance, um pouco de ficção. Mais biblioteca que museus. Fotos, muitas fotos, de tudo e de todos. Índia...um dia eu irei. Saltos!! Altos!! Batom, máscara para olhos e delineador. Saias longas. Meus seios e minha boca. Do olhar e das mãos (principalmente do que faço com elas). Não se pode ter saudades de um tempo tão massacrado pela ditadura. Gosto do que se pensava e se construía naquela época, mas a época é triste. Anos 80.
Quando eu, enfim, crescer... crescer...rsrsrrsr!! Quero ser uma mulher que tenha um enorme prazer de ser o que é, quero fazer escolhas que ajudem no meu entendimento, não quero cultuar carência nem fracassos e nunca, nunca abrir mão de mim mesma...isso é crescer. Acho que já cresci!!


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

SIMPLES



Depois que eu te pego
pela mão, querido
eu me atrevo no traço
e reinvento um destino
como quem gira na vida
um compasso.

Depois que me dispo, no leito
E te vejo passeando no tempo
Te sinto em minha anarquia
Faço, com você, uma espécie de trato
Descubro que me deixo perder em teu corpo
Porque é em mim 
Que me acho.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

SOMBRAS, APENAS.




As palavras têm andado por aí
Eu já li e sei.
Pelos teus olhos elas me olham
Passageiras,
Libertas das mulheres
Que se acumularam em mim
Mulheres que, sem que você perceba,
Venho noite e dia te mostrar.
De repente invento histórias
Visto-me de suspenses
Transito entre o real e o imaginário
E te ofereço, destemida, marcas de nascença
Jamais expostas
Jamais despidas
-Uma fase madura que se atreveu no ego-
As palavras em mim
Descem escadas,
Buscam o impossível,
Habitam sótãos
Que recheados de ideias
Invadem o cérebro e 
Modificam toda a mobília da sala
As palavras, saídas de mim,
Querem te convidar para
Furtivos encontros,
Bares inclusos,
Cinemas ordinários,
Paradisíacas paisagens,
Variados quartos de Motel.
As palavras, presas em mim,
Emancipam febres,
Inventam antigos desejos
Para as pontas dos teus dedos
Que libertam gozos ardis.
Preciso te mostrar, com palavras,
Meu cansaço,
Minhas vitórias,
Minhas armas e escudos,
Minhas mentiras e verdades,
Meus medos "passarinhos"
- de asa quebrar- liberta que sou
Preciso tirar os sapatos,
As calças,
A camisa e
Longamente te mostrar
Os pecado que, em nós,
O mundo cintila...
Mudos talvez sejamos,
Irremediavelmente,
Ridículos.
Olhados, de perto, 
Talvez sejamos estúpidos.
Vistos, por dentro, 
Talvez etejamos por fora.
Talvez sejamos frágeis e perecíveis
Talvez as palavras, apenas elas, tenham intimidades
Talvez sejamos
Chuva,
Vinho,
Poça ou
Rio...
Quem sabe no mar...
De palavras
Em ondas fotografadas
Sejamos sombras 
Cúmplices, apenas,
Como certas estrelas 
Que ,de longe,
Sabem-se vagarosas no andamento,
Passionais na transição,
Enlouquecidas na órbita e ébrias de sedução.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

MEU COLO,UM VINHO. TUDO QUE TENHO PARA TE DAR.

                                                              

Nada pode fazer um dia transcorrer perfeito quando a perfeição buscada não é aceita. Trabalhamos em uma cidade que descansa quando o assunto é superação, mas não podemos perder o nosso refinamento e nossa ousadia pois não nos deixamos cair no angu que eles cozinham evento após evento.
Saia do reduto, aposte em você e torne sua pesquisa e desejos em algo itinerante.
O que me incomoda é a falta de respeito conosco, sempre. O que me chateia é não receber, com raras excessões, o mesmo tratamento que recebem meus colegas cariocas, paulistas ou sei lá de onde chegam. Sou cosmopolita, baby. Sei que incomodo por saber chorar sem deixar inchaços no rosto. Choro por dentro, como você fez no instante em que me sacudiu e, me fez lembrar do Caio Fernando Abreu em um trecho mais ou menos assim..."Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros ... quero parar de me doar e começar a receber." Sei que ficamos esperando uma troca quando estamos ávidos dela e cheios de razão, sei que sabemos que podemos entregar para uma comunidade um pouco de conhecimento e beleza e olhares outros, mas não sabemos, ainda, como direcionar pessoas tacanhas, sem personalidade ao que entendemos como realização coletiva... fazer o quê?
Há possibilidades pra quem não envelhece a alma. A minha é um feto e ainda guarda o instante que lhe foi concebido a vida...o gozo. É disso que temos que envelhecer...de nos saber capazes de como Fênix renascer das cinzas.
Amanhã passa, sempre passa e aí..."Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre virgulas, aspas, reticências... eu vou gostando... eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou... e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos... e vou... dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar". Mas o problema é que pouco EU já não quero mais.Então ofereço o que posso em colo, palavras e vinho...o resto? O resto, sei lá.



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

DE ALMA ABERTA

"A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo."

Li essa frase e parei pra pensar no quanto é bom ser livre de pulsilanimidade. Fiquei pensando nas gentes pulsilanimes que encontrei em meu caminho e no quanto elas acrescentaram em mim, mesmo sem saber.
Conheci homens com saberes tão duvidosos e práticas tão ridículas em seu cotidiano- no que diz respeito aos encontros amorosos- que passei um tempo me desvencilhando deles como quem teme o sexo oposto por, lamentávelmente, vê-lo como fraco, no sentido de raso mesmo.
Há tempos não me encanto, há tempos que tenho uma sensação de que isso não ocorrerá mais, pois me falta o olhar do outro, me falta aquele olhar de troca, de fé no sentido e no sentimento, olhar de "vale a pena" e não aquele do "serve, pois não tô fazendo nada", falta o olhar que me molhe, sabe?
Diante disso crio viagens e descubro que posso encher meu olhar de outros lugares, ao invés de outra gente. Tendo isso em mente, parto para a arrumação de pequena mala e vou me encontrar comigo em outro território, buscando um olhar distraído e que até pode ser o meu, que também precisa se encarar e se emoldurar e tentar se aproximar do outro sem criar uma matemática...sendo destemido apenas e, encarar que um encontro pode ser somente sexual, mas sem perder a noção de que o sexo começa no olhar, o amor começa no olhar, toda relação começa no olhar. De repente, ele pisca diferente e começa qualquer coisa que não precisa, desesperadamente, de rótulos. É isso que quero!! Um olhar que me convide para a vida, para o encontro, para o tempo, que dura na medida do que damos e conquistamos, é de me expandir que preciso e, garanto, coragem pra isso não me falta, pois não me deixo contrair.

LOUCA POR DIVAS


                                                                    

Nossa!! Fiquei surpresa ao ver o hiato que estabeleci com o que me era tão primordial- a escrita-. Descobri que comecei a me preocupar deveras com o que escrevia e que isso foi me tolindo o prazer de exercer esse ato da forma que quero e penso, por me encontrar engessada, por me pegar preocupada com a opinião alheia.
Ao caralho com elas!!, se só querem me fazer perder o brilho e a métrica. Aceito críticas e repenso-hoje mais madura- em cada palavra para que possa me garantir de sua serventia, mas isso não irá me fazer frear. Isso não! Estou em estado de agradecimento, encubação de sentimentos, planejamentos futuros. Estou revisando minha história e apurando minha escuta.
Estreei mais um espetáculo na semana passada e nem  tive tempo, sequer, de falar sobre ele no meu Blog, pode? Mas não é tarde, pois ainda me resta a apresentação em Macaé, no dia 05/12 e eu quero afinar ainda mais o espetáculo que é minha maneira de me salvar. Coloquei em cena algumas das mulheres que mais me fascinaram na história da música popular brasileira. Encarei e encarnei Carmem Miranda, Chiquinha Gonzaga, Dolores Duran,Aracy de Almeida. Clara Nunes, Adriana Calcanhoto, Marisa Monte, Maria Rita, Roberta Sá e Elis numa brincadeira tão séria que conquistou a todas as pessoas que pelo SESI Campos e Itaperuna passaram para me prestigiar. Sei que não posso ter agradado, de todo, a todos, mas o que ouvi foi bom, muito bom e, mesmo as críticas vão me ajudando a construir um novo caminho e a descontruir ainda mais essas Divas.
Percebi no meio do processo da carpintaria  desse exercício que não me deixo mais levar pela certeza alheia. Aprendi a discutir mais e com mais argumentos , a formar minha opinião, a brigar pelo que acredito e entendo ,pois não posso, não depois de tantos anos, aceitar,em silêncio, fazer tudo que meu mestre mandar e acho que isso pode ter chocado a direção. Falei em muitas postagens anteriores sobre o processo que passamos depois que atravessamos a marca dos quarenta. Para nós mulheres parece restar, apenas,  prateleiras onde nós somos objetos de promoção postos à venda como se não nos restasse mais tesão, vontade, viço, sonho e ousadia. Leudo engano! Estamos somando e pontuando. Escolhi trabalhar com a sensibilidade para não me perder de mim e, mesmo um pouco descrente do outro , exercitar meu amor e paixão- que são coisas ímpares-.
Essa postagem é para publicar meu mais novo sonho realizado, essa postagem é para agradecer aos que estiveram comigo na costrução desse concorde, é para agradecer aos que me prestigiaram e, principalmente àquela que me deu a oportunidade de ser nua e humana.
Enfim ...é a minha postagem pra me dedicar Festa, muita festa nessa minha loucura.

Carmem Miranda/ Adri e Arpoador
Dolores Duran
                                                       


Aracy de Almeida/Adri e Rossini
As Contemporâneas

Clara Nunes

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

PALAVRAS


                                                                              
Era um dia como outro qualquer. Era um dia para ser como outro dia do passado ou do futuro, mas no presente ele me chegou com ua mensagem de celular de um moço que não conheço pessoalmente. Pediu que interpretasse seu poema no Fest Campos de Poesia Falada. Gosto de palavras. Gosto de palavras que gritam e que silenciam tudo. Gosto de palavras que emocionam, que transformam, que nos fazem pensar, que nos eternizam. Gostei das palavras do moço, e decidi que iria interpretar o seu poema tão cheio de imagens e de surpresas.
Sempre que leio um poema, conto, prosa ou bula de remédio, na minha mente vem a galope o esteriótipo da personagem. Fico imaginando como anda, fala, pensa, encanta. Quando me deparei com o poema "Dor de Rosa", não foi difernte. Mas algo de mais especial e revelador me tomou por inteiro. Saber que fora escrito por um homem me deixou ainda mais curiosa e aí, inconscientemente, acabei fazendo uma viagem ao interior dessa alma tão feminina. Fui arrebatada pela menina que existe nas palavras do moço, fui tomada de tamanha emoção que quando disse o poema não era mais eu quem estava lá. O grande barato da interpretação é poder ser aquilo que não se é, mas que poderia ter sido. De repente, eu era a menina que nunca havia usado um vestido de chita, aquela que não conhecera os contornos de um corpo escolhido, aquela cuja infância fora roubada, que o o lhar fora congelado e que a alma perdeu o caminho...
Não poderia descrever o tamnho de minha emoção nem o quanto é interessante ver/sentir a reação das pessoas que embarcaram comigo no navio das palavras.
Escrever não é fácil. Transformar a escrita do outro num jogo de sensações também não, mas se render as fonemas, as frases, aos tons que tem um poema é ajoelhar diante do Deus que existe em todo lugar e se sentir facilmente levada pelas dificuldades. Cumpri meu ofício uma vez mais. Fiz o melhor de mim e agradeço ao moço por ter me confiado sua escrita e me oportunizado um encontro sublime com suas palavras.

DOR DE ROSA

Minha infância nunca descobriu
os mistérios que habitam o fundo do rio.
Sempre me disseram que o vestido encurta
depois que a gente sente a flor do maracujá brotar
no meio do sexo, disfarçando a paixão
que aqui a gente confunde com o menor dos gestos.
Quando virei mulher, o sangue pingou
pelo terreiro até o sol cicatrizar dezembro.
Não colhi brincos da natureza
porque nunca me ensinaram a lembrar.
Esquecer é um catecismo diário.
De manhã emudece minhas palavras com farelos de pão
De noite, silencia qualquer pergunta
com a flor branca e roxa que só conheci estampada
nos vestidos de chita que papai nunca trouxe.
Nunca ouvi qualquer história de pescador
Nem acredito muito no milagre dos peixes
O que ouço é uma voz rouca
Arranhando o ouvido da menina que não sabe existir.
Por aqui dizem ser coisas do além, sentimentos que vagam
pelo coração da mata. Eu mesma, não sei dizer.
Sempre guardei as histórias do folclore
dentro da minha caixa de meias.
Uma porque só sinto aquilo que me toca.

Outra porque nunca fui eu, depois que papai
entupido de aguardente me ninou como
se eu fosse uma lenda.
Não posso imaginar as frestas que o mundo deixa
porque só prezo pelas distinções de escuro.
Deduzo a luz pelo toque que não sei contar,
pelo romance que não segredei aos antigos
e pelo coração que pulsa por dentro, aposenta
cirandas e não é meu.
Faltou o canto da sereia,
o contorno do corpo que não provei,
os chumaços de algodão para estancar o vermelho
que escorreu pelas pernas bambas de tão finas.
Só senti a existência dele quando a barriga começou a crescer
e nenhum tom de rosa apareceu no meio do nada do rio.
Quando a água baixou lá pelas bandas de mim,
o sol não deu trégua sequer nas vontades de antes.
A memória eu guardo no ventre do encontro das águas
O corpo eu já não sei
Só imagino cores para as variações que correm igarapé afora.
Podem imaginar o que for
Só sei que o boto tinha a barba grossa,
a mão pesada e o bafo de cigarro igualzinho ao do meu pai.


Pseudônimo: Clave de luz

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