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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A vida não é nada além de uma sombra que anda, um pobre ator que pavoneia e lamuria seu instante no palco e depois não é mais ouvido: é um conto contado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada. William Shakespeare




Tenho admiração por inúmeros artistas. Acompanho carreira, finjo ser casada com um, sou -no meu dentro, amiga íntima de outros. Vou me inventando à medida em que eles se reinventam.
Construí parte do meu  palco assim, observando àqueles que vejo grandes,que sempre soube grandes, mas não intocáveis. 
Que graça teria conquistar uma legião e não ser humano para com ela?
Ontem foi dia do professor. Serei objetiva, ou tentarei, pra falar de uma mestra que nunca me soube aluna, mas fui. Sou.
A primeira vez que a vi, foi no ano de 1981. Ela aparecera na sala de minha casa presa em uma caixa que estava aberta para o mundo.Tínhamos um aparelho de TV da marca Philips tubo, na cor marrom.
A minha primeira aula com aquela mulher/atriz/bruxa portadora de um timbre invejável e de quem as mãos eram celebres foi na novela "Baila Comigo" cujo papel interpretado por ela era de uma atriz, Silvia. 
Lembro-me que Lilian Lemmertz interpretava Helena, e que Fernando Torres era seu par... Tela repleta de DEUSES, eu diria.
Uma força feminina pulsava e tecia em mim aquilo que eu queria ser e fazer:a arte de interpretar.
Depois foram muitas outras gentes que  a vi incorporar na TV. Vó Manuela mexeu comigo, tocara minha alma de maneira pessoal devido ao misticismo que ela apresentava, e ao olhar que a atriz emprestara à personagem. O tom da voz me inquietava e despertava em mim uma grande curiosidade, pois tinha uma partitura diferente de tudo que eu escutava. Passei a ler em voz alta tudo que via.Esse hábito fez eu criar minha própria partitura e nuances para tal.
Todas as palavras, frases e textos ganhavam vida nas vidas que eu a via interpretar.
Fernanda pariu Naná, Dora, Zazá, Nossa Senhora, Luíza, Bia Falcão, Candinha, Dona Picucha, e a surpreendente Tereza que ao lado da maravilhosa Nathália Timberg, Estela, nos revelou o grande bueiro que o nosso país "cristão"é.
Naquele momento eu vi o quanto preconceituosa é a nossa terra brasilis. O quanto desrespeitosos foram com duas atrizes consagradas que deram significância ao amor entre duas mulheres mais velhas. Como foi bonita a maneira que as duas revelaram  a sensualidade,a intimidade e a coragem de se fazerem femininas,com libido, respeito e amor,mesmo na fase mais madura da vida.Vivemos em um país onde existe data de validade para amar. Isso significa que, para muitos,o amor,o desejo morre antes que o corpo.
Bem , Fernanda completa noventa anos. Em comum temos o fato de sermos librianas, filhas de Vênus e de mantermos uma fé enorme na vida.
Essa mulher foi imprescindível na minha escolha.A ela devo minha insistência, minha dedicação, minha exigência para com o meu ofício de atriz e minha disciplina.
Com ela aprendi que ator não mente, não engana, pois ele aplica sua mais profunda seriedade em ser aquilo que ele não é. Aprendi a me expor, a perder minha alma no instante em que não sou eu, aprendi a sair e voltar ao mundo.Essa é a mais louca viagem... Ser a minha própria criação e ao mesmo tempo a criação do outro. Ser eu mesma e tantas outras em mim mesma sem ser eu. Aprendi a ser sujeito e objeto, causa e fim, revelação e mistério, instrumento e matéria. Aprendi a pensar na cena sem me abandonar em cena.
Não tenho palavras para agradecer o tanto que aprendi com sua atuação sempre pontual, grandiosa e humana.
No teatro assisti apenas dois espetáculos. Fedra e Dona Doida foram meu deleite, mas confesso que não assistir Viver Sem Tempos Mortos, causou um desespero em mim.
Senhora das senhoras, quanta honra em trocar um abraço,escutar um pouco de você através de você. Nada direi sobre "despolitica". Não alimento de iguarias os porcos.
Hoje é dia de FESTA! Desejo que os mestres de nossa carpintaria estejam com você,que o tempo continue sendo generoso com sua trajetória,que eu tenha aulas e mais aulas com suas interpretações e,por fim, que eu continue tentando sair do inferno, pois para isso criamos.
Que seja de luz, coxias, dúvidas, ensaios,leituras, estreias,empatia e afetos os dias que virão!
Evoé!
Gratidão pela sua existência!

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