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quinta-feira, 3 de março de 2011

CARRO DE CORSO

                                                                     


Estou me preparando para esse carnaval com muito pouco entusiasmo. Acho que o tempo começou a fazer uma mexida comigo. Estou um ser sem "aquela" paciência ,e conviver bem é a maior de minhas exigências.
Não sei se os dias de folia ainda provocam em mim as mesmas expectativas do passado - nossa só tem um ano e parece que faz um século do último  carnaval - ou se nada mudou e eu é que estou numa desenfreada mudança.
Ontem ,enquanto arrumava minha bagagem, conversava com a minha mãe que assistia ,junto comigo, a um programa que era exibido pela rede cultura e que falava de carnaval... Olhei para a tela e para os olhos de minha mãe que estavam marejados- Isso é que era carnaval !!- disse-me ela .- Eu saia no corso ,em pé sobre a capota do carro...Nossa !!! Eu era linda !!!- Ai meus olhos também marearam e eu me peguei sentindo saudades de minhas matinês, da minha época em que o dinheiro mal dava pra inventar uma fantasia e que minha mãe,apaixonada por carnaval , fazia as invencionices apropriadas para a época. Lembrei-me também de quando chorava querendo acompanha-los (meus pais) aos bailes noturnos no Clube de Regatas Rio Branco e era proibido, pois crianças e /ou adolescentes só frequentavam as matinês...eu nem fiquei traumatizada com isso .
As coisas tinham um sabor mais lúdico,menos carnal e sensual e mais...romântico.Romântico , é isso !! É disso que sinto falta. Do pierrot apaixonado,da melindrosa atrevida,da havaina dengosa...sinto falta desse lúdico. Lúdico no ápice da palavra e com direito a muito ,muito lança perfume que eles espirravam uns nos outros...
Eu vi e vivi tudo isso com olhos de quem fica esperando o tempo passar para poder repetir as mesmas folias,para poder passar pela Apoteóse da vida atravessando cada barreira,sem perder o ritimo e a harmonia dentro de uma cadência em que o olhar ,as luzes e as lembranças fazem a evolução.
                                                                   
Pra quem gosta, como eu, um carnaval de confetes, marchas e serpentinas...

" Me leva que eu vou...sonho meu..."


                           " Um Pierrot apaixonado...
                            Que vivia só cantando.... "                                         

CAIU ??? LEVANTA E PINTE DE ROSA

                                                                                    
Meus amigos, todos nós que moramos em Campos sabemos das inúmeras insatisfações que quase todos os moradores possuem com o governo e com a administração pública desta cidade. Os motivos de ira e revolta são inúmeros e parecem não ter fim. Apesar disto, não fazemos absolutamente nada! Nos calamos e o máximo que fazemos é manifestar a nossa ojeriza com amigos e familiares.
Sendo assim, gostaria de convidá-lo a se unir à manifestação do “buraco rosinha”. É isso mesmo que você ouviu! No dia 18 de março, à noite, iremos pintar o buraco da rua de nossa casa, ou algum buraco nas ruas da cidade (não é difícil encontrar...) da cor rosinha. Na cidade existem centenas (quando existe um período de chuva este número chega a milhares) de buracos e cratreras que acabam com os nossos carros.
Sendo assim, vamos chamar a atenção das autoridades, do povo, da mídia... vamos fazer alguma coisa!
Esta é apenas uma das várias manifestações que pretendemos fazer ao longo deste ano.
Por favor, divulgue esta mensagem em sua lista de e-mail e peça aos seus contatos que façam o mesmo.
Já imaginou, no sábado 19 de março, a cidade amanhecer cheia de buracos rosinhas?
Ajude-nos nesta campanha! Divulgue esta ideia!

Contamos com todos vocês ... Tomara que pessoa alguma seja tragada por algum buraco e consiga chegar ao ponto de concentração (rsrrsrs).







quarta-feira, 2 de março de 2011

ÉDIPO REI

Talvez com a intenção de persuadi-los a fazer uma leitura dessa preciosidade exponho um resumo do que é essa "1° peça policial " que levou e leva muitos atores e diretores ao instante supremo de ousadia,entendimento,talento e dedicação.

                                                         Édipo Rei
  

Laio, filho de Lábdaco nutria em  sua juventude uma juventude mórbida por Crísipo, filho de Pêlops, inaugurando assim, segundo alguns autores gregos, os amores homossexuais. Laio raptou Crísipo e foi amaldiçoado por Pêlops, que desejou a Laio o castigo de morrer sem deixar descendentes. Posteriormente Laio casou-se com Jocasta , irmã de Creonte, e tornou-se rei de Tebas . Apesar de um aráculo haver-lhe anunciado que, como castigo por seus amores antinaturais com Crísipo, se nascesse um filho dele e de Jocasta esse filho o mataria, Laio tornou-se pai de um menino . Para tentar fugir à perdição do oráculo , mandou perfurar-lhe os pés e amarrá-los. A ordem foi abandoná-lo no monte Citéron para morrer naquela região inóspida , na esperança de fugir assim à decisão divina. O pastor, entretanto, movido pela piedade, salvou a vida do filho de Laio e de Jocasta e o entregou a um companheiro de profissão , que costuma levar os rebanhos de Pôlibo ,rei de Corinto ,às pastagens situadas no vale do Citéron. Esse pastor levou o menino , cahamado Édipo em alusão a seus pés feridos e inchados , a seu senhor , o rei Pôlibo, que não tinha filhos e vivia lamentando-se por isso. Pôlibo e a mulher Mérope criaram Édipo como se fosse filho deles. Quando Édipo chegou a maioridade foi insultado por um habitante de Corinto , embriagado, que o chamou de filho adotivo. Diante dessa revelação Édipo se dirigiu sozinho a Delfos, para consultar o oráculo de Apolo a respeito de sua ascendência. O deus nada lhe disse quanto à sua pergunta, mas revelou-lhe que ele um dia mataria seu pai e se casaria com sua própria mãe. Édipo, supondo que Pôlibo fopsse seu pai e Mérope sua mãe, resolveu não voltar mais para Corinto. Naquela época os habitantes de Tebas estavam alarmados com a esfinge, que vinha devorando os tebanos , incapazes de devorar os enigmas propostos pelo monstro, pondo em perigoa cidade toda. Em sua fuga ele passava pelos arredores de Tebas quando, em uma encruzilhada de três caminhos,avistou um carro que vinha um homem idoso seguido por criados . O homem gritou-lhe insolentemente que deixasse o caminho livre para seus cavalos passarem e um dos criados da comitiva espancou Édipo. Este reagiu e matou o homem que estava no carro, sem saber que estava matando seu pai,Laio , e também todos os seus criados, exceto um. Em seguida Édipo chegou a Tebas e, passando pela calamitosa esfinge, decifrou o enigma que essa lhe propôs. A esfinge desapareceu e Tebas,salva daquele flagelo, fez de Édipo o rei da cidade e lhe deu de casamento Jocasta ,viúva de Laio e, portanto mãe de Édipo. Estavam assim realizadas as duas predições do oráculo, embora Édipo e jocasta permanecessen na ignorância da imensidade de seu infortúnio. Por muitos anos Édipo governou Tebas cmo um grande e valente rei; de seu casamento com Jocasta nasceram duas filhas  - Antígona e Ismene - e dois filhos - Polinices e Etéocles - , que cresciam em meio a paz e prosperidade. Os deuses, todavia, estavam atentos aos fatos nefandos resultantes da desobediência aos seus oráculos, e no devido tempo fizeram tombar sobre Tebas uma peste que lhe dizimava os habitantes.
Apeça gira em torno da descobertya por Édipo dos fatos terríveis que motivaram o castigo divino - a peste .Com efeito, a partir da volta de Creonte com a resposta do oráculo ,há um crime - o assassínio de Laio-, um investigador interessado em elucidá-lo e punir o culpado , a busca às testemunhas, o assasssino, interrogatório e finalmente a descoberta do criminoso. E adescoberta resulta quase inteiramente da insistência do próprio criminoso em elucidar os fatos .Édipo, que já mandara Creonte, seu cunhado consultar o oráculo,desencadeando os acontecimentos que levariam à identificação do culpado, manda buscar o adivinho Tirésias e o obriga a falar.Insistindo sempre em seu propósito, Édipo dá ordens para trazerem à sua presença o idoso pastor, testemunha em sua juventude do assassinato de Laio. Levado por essa obstinação em descobrir o assassino - em dscobrir-se Édipo chega a pensar em um conluio de Tirésias e Creonte para destituí-lo do poder. Essa acusação obriga Creonte a aparecer para defender-se, dando origem a uma discussão que resulta na interferência de Jocasta, interferência esta que apressa a descoberta. Tudo isso ocorre dentro de um encadeamento perfeito. Os acontecimento surgem uns dos outros com a naturalidade da voida real, embora com a precisão, força e a beleza da arte ,que nas mãos de Sófocles e no`Édipo Rei chega à perfeição. O único elemento fortuito dessa sequência de acontecimentos encadeados é o aparecimento do mensageiro vindo de Corinto, puramente acidental mas de grande importância , pois foisua revelação, com a melhor das intenções , de que Édipo não era filho de Pôlibo e Mérope, que precipitou a descoberta . essa exceção , todavia, parece destinar-se a demonstrar que, ao lado da inexorável justiça divina, o acaso, sob a aparência dos fatos simples da vida , concorre igualmente para a descoberta e punição dos culpados . Também nesse detalhe Sófocles foi genial.

Fonte:A Trilogia Tebana
Tradução: Mário da Gama Kury

Uma leitura que vale a pena,cenas e contextos que nos levam,certamente, para uma Grécia clássica. Um belo enredo para um grande carnaval, não acham ???

terça-feira, 1 de março de 2011

DOMINGO DE TRAGÉDIA

O domingo foi lindo!! De sol, muito sol e muita luminosidade. O barulho das crianças da vizinhança fez alvoroço na menina que ainda habita em mim. No quintal a cachorrada brincava e latia quase sorrindo. Tudo estava perto da  perfeção não fosse um certo desassossego que me tomava. Minha mãe não para.Nunca. Nem aos domingos. Arruma casa, lava, cozinha etc, etc...Isso me alucina e vai aumentando a minha fadiga. Ela tem essa mania de ser sempre muito solicita. Acho que devido ao fato de escutá-la sempre dizendo sim ou se calando como se não quisesse expor sua opinião acabei aprendendo a dizer não até para mim. Ela tanto faz que me cansa...Afhe !! E ainda tenho que escutar o bossal do Bial chamar aquele bando de desocupados de heróis. De que tipo de herói ele está falando? Será que essa distorção da vida cai na crença de algum idiota?
Herói é quem sai de casa às 5:00h da matina ,pega duas lotações,enfrenta sol, chuva, mau humor e no final do mês recebe R$ 530,00 e... Salve !! Salve!!
Como nada tem pra se fazer num domingo depois de almoçar (deliciosamente por sinal) a não ser arrumar a cozinha, relembrar de alguns "causos" que minha mãe adora contar e rir de nós duas...resolvo pegar um livro para ler ou reler e acabo me deparando com o melhor da Tragédia Grega que é a "Trilogia Tebana" de Sófocles.
Havia esquecido o quanto é bom cada verso dessas peças. O Édipo Rei é , portanto, a mais típica das tragédias gregas, e por isso é uma das mais citadas por Aristóteles em apoio às suas definições e concepções. Há uma perfeiçaõ que transparece em cada detalhe. Cada verso tem um propósito e por isso deve ser feita uma leitura cuidadosa e atenta. Deve-se analisar a carpintaria literária, a harmonia do conjunto.
Percebe-se a preocupação perfeccionista de Sófocles e isso se deve,ao menos em parte, à brutalidade do tema . O autor ,com seu senso estético adequado evitaria que a peça descambasse para o escabroso. E atingiu o seu objetivo, pois apesar do tema o Édipo Rei é um verdadeiro impacto de beleza trágica.


Fonte: A Trilogia Tebana - Sófocles.
Tradução: Mário da Gama Kury.                          

                                             

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

No Retiro da Figueira

"A lista de mortos da gente vai aumentando com o tempo..." Ouso parafrasear Elisa Lucinda depois que um vento frio bateu em minha face e me trouxe uma verdade que eu não esperava ouvir. Sei que a morte é algo certo e que não existe maneira de nos livrarmos dela, mas me surpreendo com algumas perdas, e essa é uma enorme para a literatura .
Embora formado em medicina, Moacyr Scliar, publicou mais de 70 livros, entre cronicas,contos,ensaios, romances e literatura infanto-juvenil. Recebeu três vezes o Prêmio Jabuti e ocupava a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras.
Renovador profundo de nossa ficção,  produtor de uma narrativa que causa um certo estranhamento, cronista dedicado e dono de um estilo seco e preciso deixa uma enorme lacuna na nossa literatura nos tornando um pouco orfãos de ficcionais fantasias.

Deixo para vocês esse conto. Nele existe uma tensão entre o sólido e o insólito que vai se revelando no decorrer da narrativa. Preciso e com um toque de humor deixa-nos, ainda , a ironia final . Eu, por aqui, torço para que ele tenha encontrado o "Retiro da Figueira" pra onde quer que ele tenha transitado.



                                                 No Retiro da Figueira


                                                                        



         Sempre achei que era bom demais. O lugar, principalmente. O lugar era... era maravilhoso. Bem como dizia o prospecto: maravilhoso. Arborizado, tranqüilo, um dos últimos locais – dizia o anúncio – onde você pode ouvir um bem-te-vi cantar. Verdade: na primeira vez que fomos lá ouvimos o bem-te-vi. E também constatamos que as casas eram sólidas e bonitas, exatamente como o prospecto as descrevia: estilo moderno, sólidas e bonitas. Vimos os gramados, os parques, os pôneis, o pequeno lago. Vimos o campo de aviação. Vimos a majestosa figueira que dava nome ao condomínio: Retiro da Figueira.
         Mas o que mais agradou à minha mulher foi a segurança. Durante todo o trajeto de volta à cidade – e eram uns bons cinqüenta minutos – ela falou, entusiasmada, da cerca eletrificada, das torres de vigia, dos holofotes, do sistema de alarmes – e sobretudo dos guardas. Oito guardas, homens fortes, decididos – mas amáveis, educados. Aliás, quem nos recebeu naquela visita, e na seguinte, foi o chefe deles, um senhor tão inteligente e culto que logo pensei: “ah, mas ele deve ser formado em alguma universidade”. De fato: no decorrer da conversa ele mencionou – mas de maneira casual – que era formado em Direito. O que só fez aumentar o entusiasmo de minha mulher.
         Ela andava muito assustada ultimamente. Os assaltos violentos se sucediam na vizinhança; trancas e porteiros eletrônicos já não detinham os criminosos. Todos os dias sabíamos de alguém roubado e espancado; e quando uma amiga nossa foi violentada por dois marginais, minha mulher decidiu – tínhamos de mudar de bairro. Tínhamos de procurar um lugar seguro.
         Foi então que enfiaram o prospecto colorido sob nossa porta. Às vezes penso que se morássemos num edifício mais seguro o portador daquela mensagem publicitária nunca teria chegado a nós, e, talvez... Mas isto agora são apenas suposições. De qualquer modo, minha mulher ficou encantada com o Retiro da Figueira. Meus filhos estavam vidrados nos pôneis. E eu acabava de ser promovido na firma. As coisas todas se encadearam, e o que começou com um prospecto sendo enfiado sob a porta transformou-se – como dizia o texto – num novo estilo de vida.
         Não fomos os primeiros a comprar casa no Retiro da Figueira. Pelo contrário; entre nossa primeira visita e a segunda – uma semana após – a maior parte das trinta residências já tinha sido vendida. O chefe dos guardas me apresentou a alguns dos compradores. Gostei deles: gente como eu, diretores de empresa, profissionais liberais, dois fazendeiros. Todos tinham vindo pelo prospecto. E quase todos tinham se decidido pelo lugar por causa da segurança.
         Naquela semana descobri que o prospecto tinha sido enviado apenas a uma quantidade limitada de pessoas. Na minha firma, por exemplo, só eu o tinha recebido. Minha mulher atribuiu o fato a uma seleção cuidadosa de futuros moradores – e viu nisso mais um motivo de satisfação. Quanto a mim, estava achando tudo muito bom. Bom demais.
         Mudamo-nos. A vida lá era realmente um encanto. Os bem-te-vis eram pontuais: às sete da manhã começavam seu afinado concerto. Os pôneis eram mansos, as aléias ensaibradas estavam sempre limpas. A brisa agitava as árvores do parque – cento e doze, bem como dizia o prospecto. Por outro lado, o sistema de alarmes era impecável. Os guardas compareciam periodicamente à nossa casa para ver se estava tudo bem – sempre gentis, sempre sorridentes. O chefe deles era uma pessoa particularmente interessada: organizava festas e torneios, preocupava-se com nosso bem-estar. Fez uma lista dos parentes e amigos dos moradores – para qualquer emergência, explicou, com um sorriso tranqüilizador. O primeiro mês decorreu – tal como prometido no prospecto – num clima de sonho. De sonho, mesmo.
         Uma manhã de domingo, muito cedo – lembro-me que os bem-te-vis ainda não tinham começado a cantar – soou a sirene de alarme. Nunca tinha tocado antes, de modo que ficamos um pouco assustados – um pouco, não muito. Mas sabíamos o que fazer: nos dirigimos, em ordem, ao salão de festas, perto do lago. Quase todos ainda de roupão ou pijama.
         O chefe dos guardas estava lá, ladeado por seus homens, todos armados de fuzis. Fez-nos sentar, ofereceu café. Depois, sempre pedindo desculpas pelo transtorno, explicou o motivo da reunião: é que havia marginais nos matos ao redor do Retiro e ele, avisado pela polícia, decidira pedir que não saíssemos naquele domingo.
         – Afinal – disse, em tom de gracejo – está um belo domingo, os pôneis estão aí mesmo, as quadras de tênis...
          Era mesmo um homem muito simpático. Ninguém chegou a ficar verdadeiramente contrariado.
         Contrariados ficaram alguns no dia seguinte, quando a sirene tornou a soar de madrugada. Reunimo-nos de novo no salão de festas, uns resmungando que era segunda-feira, dia de trabalho. Sempre sorrindo, o chefe dos guardas pediu desculpas novamente e disse que infelizmente não poderíamos sair – os marginais continuavam nos matos, soltos. Gente perigosa; entre eles, dois assassinos foragidos. À pergunta de um irado cirurgião o chefe dos guardas respondeu que, mesmo de carro, não poderíamos sair; os bandidos poderiam bloquear a estreita estrada do Retiro.
         – E vocês, por que não nos acompanham? – perguntou o cirurgião.
          – E quem vai cuidar da família de vocês? – disse o chefe dos guardas, sempre sorrindo.
          Ficamos retidos naquele dia e no seguinte. Foi aí que a polícia cercou o local: dezenas de viaturas com homens armados, alguns com máscaras contra gases. De nossas janelas nós os víamos e reconhecíamos: o chefe dos guardas estava com a razão.
          Passávamos o tempo jogando cartas, passeando ou simplesmente não fazendo nada. Alguns estavam até gostando. Eu não. Pode parecer presunção dizer isto agora, mas eu não estava gostando nada daquilo.
          Foi no quarto dia que o avião desceu no campo de pouso. Um jatinho. Corremos para lá.
          Um homem desceu e entregou uma maleta ao chefe dos guardas. Depois olhou para nós – amedrontado, pareceu-me – e saiu pelo portão da entrada, quase correndo.
          O chefe dos guardas fez sinal para que não nos aproximássemos. Entrou no avião. Deixou a porta aberta, e assim pudemos ver que examinava o conteúdo da maleta. Fechou-a, chegou à porta e fez um sinal. Os guardas vieram correndo, entraram todos no jatinho. A porta se fechou, o avião decolou e sumiu.
         Nunca mais vimos o chefe e seus homens. Mas estou certo que estão gozando o dinheiro pago por nosso resgate. Uma quantia suficiente para construir dez condomínios iguais ao nosso – que eu, diga-se de passagem, sempre achei que era bom demais. 

                                                                                                   

                                                                                              MOACYR SCLIAR -                                                                                                23/03/1937
                                                                                                27/02/2011                               

                                

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