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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DA SÉRIE: ELA É CARIOCA

Minha vida está um caos- no que diz respeito a arrumação-. Depois de uns 40 dias de obra a vida parece querer voltar ao normal, mas sabemos que desarrumar é facílimo e que reorganizar é tarefa para uma gente com tempo e paciência de sobra - volterei nas próximas encarnações para exercitar ambos- e que eu, infelizmente não tenho.
O assunto é que ontem, enquanto organizava ,em pastas, vários riscos e rabiscos, encontrei algo que escrevi quando em 2007 assisti no Canecão ao show do meu marido, Chico Buarque - ele não sabe disso-. Gostei do que li e lembrei de cada detalhe daquela noite em que reencontrei alguém que encontrara na minha meninice e que acabou sendo meu eleito até que um tipo de morte nos separou.
    
                                                     SORTILÉGIO DE CHICO

 Numa noite dessas em que tudo pode acontecer, deixei o desejo ser mais forte que a vontade. Teci para mim mesma um sortilégio em que me prometia uma arrebatadora explosão. Vesti-me de luz, brilho e esperanças. Canalizei apenas pensamentos bons e libertei-me de meu passado e de meus fantasmas. Prometi e cumpri não chorar por um amor e deixei-o lá em meu relicário me permitindo ser conduzida pelas mãos das novas possibilidades.
Invadi, soberana, o mágico e musical ambiente. A música era concreta e fazia aguçar em mim uma vontade de ser minha novamente e me reencontrar repleta de planos futuros.
Observei cada detalhe daquele espaço onde veria , pela segunda vez, meu ídolo. Sabia, lá no meu intimo que quando o escutasse de viva voz ficaria embriagada e emocionada.
Sentada em meu lugar escolhido e bem perto do palco fiquei espectativamente aguardando aqueles olhos verdes de ardósia iluminar a paisagem tão esperada por mim.
O show era "Carioca"e, sem dúvida, levaria ao meu íntimo mais que melodias.
O pedido feito ao garçom deixou todos estupefatos. Pedi um refrigerante, pois não queria que nada desviasse minha atenção. Queria estar embriagada de sua poesia e voz. Me prometi lucidez e enquanto ele cantava eu ouvia "as declarações mais belas de um sonhador Titã". Meu peito dava "nó em paralela" e naquele instante eu era sua maior fã...
Várias músicas interpretadas e "na rádio cabeça" todas que eram tocadas me remetiam a algum instante do tempo onde fui qualquer coisa ou sentimento com "todo sentimento".O mundo parecia ter parado e só existia aquele momento. "Eu era o seu pião, seu bicho" e ele o meu preferido que atravessava a janela de meus olhos só para eu "ver a banda passar falando coisas de amor..."
Ao som de "Fado Tropical" meu "Folhetim" desfiou tim-tim por tim-tim esboçando meus "Anos Dourados", minhas "Vitrines querendo passar"
Eu que não cria em Deus "ergui as mãos para os céus e agradeci por estar ali como se fosse num romance." Imaginei  "o homem dos meus sonhos me aparecendo num dancing."
A minha alma e cabeça já estavam "pelas tabelas" procurando "com açucar e com afeto" "qualquer amor".
Chegava o momento final do show e eu ia reforçando meu sortilégio: Ser feliz, mesmo por um triz. Toda a mulher que ali estava "vivia a te buscar e pensando em ti, corria contra o tempo".
Dentro de mim um medo enorme de nada acontecer...Cale-se!! preciso do bis !!e minha alma doida gritando..."Vou voltar/haja o que houver/eu vou voltar.."
Finda a festa . Levitação bestial. O que é amor? O vento batia em minha cara como se fizesse uma transformação ou me conduzindo pra uma nova viagem.
Depois de muito caminhar cheguei a um lugar com mais música,música, música. Era isso que eu queria, mais música.
Uma hora depois de me encontrar naquele Rio Scenarium, entre uma valsa e outra ,achei o meu par. Éramos dois olhos. Dois sedentos e grandes olhos se encontrando pela 1° vez. Éramos uma grande vontade de tudo.
Mudos. Completamente mudos. Ficamos assim por um tempo como se tivéssemos desejado a noite inteira a mesma coisa.
Estava realizado o sortilégio. Encontrei uma parte que podia se repartir pra mim. Encontrei um ser inteiro e me fiz inteira pra esse acontecimento.
"Lhe dei meu corpo, minha alegria em troca ele me amou tanto e de tanto amar achava que eu era bonita. Fizemos amor como quem tropeça nas estrelas e andávamos pela casa como que flutua."
Era o meu romance e ele me apareceu num dancing e eu disse "sim". Tornei-me sua amiga, sua comida, sua irmã seu incesto. Perfeita...igualzinha...traiçoeira, cria da sua costela. Ele estava lá, outra vez, no lugar que era todo seu, de volta para o Rio.
Vivi os dias mais dourados de minha vida, mas ele foi sumindo...por aí e me mostrando que a cidade é um vão... Olha a voz que me resta, a veia que salta, a gota que falta pro desfecho da festa.
Te deixei jurando nunca mais olhar pra trás, mas é tanta saudade...é pra matar...
Melhor mesmo é isso: deixar em paz meu coração e entender que nos amamos feito dois pagãos.
Agora me diz...pra onde ainda é que eu posso ir?

                                                                             

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